Nossa primeira participação na Semana Fashion Revolution foi marcada por emoção e um conteúdo valioso trazido pela professora e ativista Dani Ruano, representante em São Paulo do movimento global Fashion Revolution. Na Semana FR, que aconteceu entre os dias 23 e 29 de abril, eventos em diversos pontos do planeta, presenciais e online, discutiram os bastidores da moda e seus impactos socioambientais.
Aqui na T.Christina, realizamos dois dias de encontros. No dia 26, quarta-feira, recebemos Dani que apresentou os fundamentos e questionamentos do Fashion Revolution e em seguida exibimos “Estou me guardando para quando o Carnaval chegar”, filme do diretor Marcelo Gomes produzido pela Carnaval Filmes, produtora pernambucana de prestígio que liberou o acesso ao filme especialmente para os nossos colaboradores e parceiros convidados. Ainda, no dia 27, abrimos as portas da fábrica para o UPCYTOUR INDUSTRIAL, uma visita guiada pelo processo de produção do tecido ORICLA ELÁSTICO, feito com sobras de corte e criado em parceria com a designer uruguaia especializada em upcycling Agustina Comas (sobre esse dia, contaremos num próximo texto, acompanhe!)
Dani contou sobre a origem do Fashion Revolution, em Londres, uma reação ativista a um dos episódios mais tristes da moda, o desabamento do Rana Plaza na capital de Bangladesh, tirando a vida de 1.127 trabalhadores em 2013. Segundo Dani, a tragédia já estava anunciada, o prédio onde funcionavam fábricas de roupas fornecedoras de marcas internacionais conhecidas já dava indícios de problemas estruturais, por isso não foi um “acidente”. Foi um crime. Todas essas informações são chocantes e o ponto de partida para repensarmos sobre as condições de trabalho que existem por trás das roupas que vestimos.
O movimento se esforça para dar visibilidade a quem faz as nossas roupas e como elas são feitas através das campanhas: “Quem fez minhas roupas?”, “A cor de quem fez minhas roupas?”, “De que são feitas as minhas roupas?”. Também tem o Índice de Transparência da Moda, com 60 grandes marcas participantes, das quais a C&A teve a maior pontuação no relatório de 2022, entre outros parceiros da T.Christina como a Renner, empresa que também se destaca no compromisso com sustentabilidade e responsabilidade social. “A gente acredita que a justiça e a sustentabilidade vêm através da transparência”, afirmou Dani.
E foi por isso e pela própria relevância do movimento que convidamos todo o nosso time para conhecê-lo melhor, além de parceiros da nossa cadeia, fornecedores importantes da indústria que podem colaborar para uma moda cada vez mais ética e atualizada com as necessidades do mundo.
Já o filme “Estou me guardando para quando o Carnaval chegar”, de 2019, documenta o cotidiano em Toritama, considerada capital do jeans no agreste de Pernambuco, onde a maior parte da sua população trabalha em pequenas confecções improvisadas em casas, quintais por todo município. Com personagens extremamente cativantes e histórias improváveis, o documentário cativou e provocou a nossa plateia.
“Um dia estava indo participar de um festival de cinema em Taquaritinga do Norte e ao passar por Toritama fiquei impressionado com a loucura que havia se tornado aquela paisagem. Foi quando alguém comentou comigo que as pessoas ali costumavam vender seus próprios eletrodomésticos para passar o carnaval na praia. Achei que era uma transgressão tão forte alguém se desvencilhar dos bens de consumo, muitas vezes de primeira necessidade, por conta do carnaval. Fiquei imaginando a intensidade desse processo de trabalho que os leva a uma transgressão dessas. E como eu faço cinema para vasculhar o que eu não conheço, achei que esse era um bom mote pra um filme e ainda me permitiria acessar o meu imaginário do agreste… Mas o que realmente me interessava não era essa mudança da paisagem urbana, mas da paisagem humana. Queria entender como foram alteradas as memórias, os referenciais culturais daquelas pessoas… Com o que elas sonham, o que elas desejam? E foi um choque pra mim quando elas disseram que achavam suas condições de trabalho eram boas e que estavam satisfeitas com a autonomia que o jeans representava… Em nenhuma das conversas as pessoas se enxergavam como vítimas ou nada parecido e tínhamos que respeitar isso na construção do filme. Poderia ser muito mais fácil fazer um filme que os colocasse nesse lugar, mas a realidade é muito mais complexa. Talvez vendo um situação tão radical como a que acontece em Toritama a gente possa refletir sobre a nossa própria relação com o trabalho e o consumo”, contou o diretor Marcelo Gomes.
Entre realidade, sonhos e pipoca, assim foi o nosso primeiro dia na Semana Fashion Revolution 2023, dez anos depois de Rana Plaza, 10 anos de movimento e conscientização para uma moda mais humana e justa.