Dias atrás, o Fashion Revolution Brasil publicou um poema escrito pela Julia Mikita que instiga o questionamento sobre o trabalho por trás das roupas, muitas vezes desvalorizado e, em alguns casos, realizado sob condições absurdas.
O poema é forte e foi inspirado pela campanha “Quem fez minhas roupas?”, promovida pelo Fashion Revolution, movimento global que investiga e divulga informações sobre os bastidores da indústria da moda e seus problemas socioambientais, sensibilizando toda a sociedade com debates fundamentais para a transformação do setor – para que ele seja mais positivo, justo e responsável.
Segue o poema:
“Quem fez as minhas roupas?
A menina que aprendeu a pregar botões?
Antes de aprender a brincar de bonecas?
Ou a menina que aprendeu a costurar zíperes
Antes de aprender a ler e escrever?
Quem fez as minhas roupas?
A mulher imigrante que vive aqui?
Ou a mulher refugiada que buscou
Ajuda para sobreviver no meu país?
Quem fez as minhas roupas?
A estilista famosa da capital do meu país
Ou a costureira humilde de uma fábrica clandestina?
Quem fez as minhas roupas?
O fabricante de magníficos tecidos no exterior?
Ou o agricultor que cultivou o algodão no interior?
Quem fez as minhas roupas?
Foram as mãos macias dos anjos que costuraram o molde,
foram as mão suaves das fadas que cortaram o tecido,
foram as mãos firmes dos duendes que costuraram o vestido,
Ou foram as mãos as mãos calejadas das mães escravizadas?
Do submundo da moda que fizeram as minhas roupas?
Quem fez as minhas roupas?
É uma pergunta que me faz pensar,
Se no mundo da moda ainda é permitido sonhar,
Com um mundo de cores sustentáveis e de corações livres para sonhar”
Segundo um comunicado publicado pelo Fashion Revolution, “O exercício de sempre perguntar “quem fez minhas roupas” desenvolve uma conexão com nossa consciência: quando prestamos atenção na pergunta percebemos que existe um “quem” antes do “roupas”, e aí reside o principal: vidas estão por trás do que vestimos”.
E foram as milhares de vidas perdidas no desabamento do edifício Rana Plaza, em Dakha, capital de Bangladesh, que motivaram a criação do movimento ativista. Em abril deste ano, o desastre completa 10 anos. A data já está na agenda , com mais uma Semana Fashion Revolution (do dia 22 ao 29) trazendo ainda outras perguntas e provocações construtivas, como: “do que são feitas minhas roupas?” e “a cor de quem fez minhas roupas”.
Uma forma de proteger a cadeia produtiva ética e seus trabalhadores é trazendo visibilidade para essas pessoas e para os movimentos que lutam por isso, como o Fashion Revolution e o ModaComVerso – idealizado pela ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil).
As fotos que ilustram este texto foram feitas nas instalações da T.Christina, com alguns colaboradores de diversos setores da nossa confecção. Na primeira imagem: Sandra Garcia.
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