Vivemos, na moda, em pleno paradoxo. Ao mesmo tempo que o setor é um dos que mais precisa de atenção para se tornar sustentável, ele é essencialmente movido por novidades e dinamismo.
Para manter a “máquina” que criamos rodando com seus postos de trabalho – são mais de 9 milhões de brasileiros atuando no setor que é o 2º maior empregador da indústria de transformação (dados publicados pela ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) – na cultura e demanda de consumo atuais, com responsabilidade socioambiental, a dança deve ser coletiva e circular.
Consolidada no país há 200 anos, temos a rede produtiva mais completa do Ocidente. Tudo é feito aqui; dos fios ao desfile. Por isso, não é utopia pensar em como os modelos da Economia Circular podem ser adaptados para a nossa cadeia, garantindo crescimento e desenvolvimento separados do consumo de recursos finitos.
Segundo a ONU, a fabricação de roupas é responsável por 20% de toda a água usada do planeta, a grande concentração desse gasto está na produção das malhas. Outro dado alarmante, do relatório Fashion on Climate do Global Fashion Agenda com a McKinsey and Company (citado no relatório Fios da Moda), em 2018, cerca de 2,1 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa foram emitidas pela indústria da moda, o equivalente a 4% das emissões globais e o total das emissões da França, Alemanha e Reino Unido juntos. Cerca de 70% desse total é decorrente das “upstreams, atividades necessárias para a composição de um produto, como processamento de materiais e produção”, ainda no relatório Fios da Moda, de 2021.
Reduzir o consumo (e a produção), para alguns especialistas, é um caminho sem volta. Para outros, talvez essa não seja uma solução, mas sim a substituição de matéria-prima e modos produtivos. Em todos os casos, a necessidade de investir é uma realidade. Investir inteligência, tempo e recursos financeiros em inovação, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento.
Aqui, entre outros esforços, na T.Christina apostamos no método de criação UPCYCLING, capaz de transformar resíduos têxteis ou material sobrante em novos tecidos e produtos, cheios de valor e design, evitando descarte e aumentando o ciclo de vida de matéria-prima já disponível.
Há 15 anos debruçada sobre a técnica que é uma espécie de engenharia, a designer Agustina Comas, da consultoria COMAS, desde 2021 vem atualizando nossa equipe e processos, encontrando o potencial escalonável do UPCYCLING na T.Christina. Dentro do que chamamos de Ateliê de Inovação, originaram o tecido ORICLA e a marca de moda fitness Rani Fit, fazendo o melhor aproveitamento dos recursos materiais e propondo conscientização para o seu público final.
Upcycling pode ser um termo “estranho” ou uma palavra difícil, mas tem ganhado destaque na mídia e sido apontando como uma grande tendência, até mesmo por suas características estéticas e padronagens marcantes, como revela o Relatório Simbiose das Macrotendências Outono/Inverno 2023, elaborado pelo Inova Moda Digital, parceria entre SENAI CETIQT e Sebrae Nacional.
Recentemente, a multinacional de eletrodomésticos Electrolux convidou as designers suecas da marca Rave Review para resgatarem do “lixão da moda“ no deserto do Atacama material para uma coleção de roupas. A ação fez circular a ideia do upcycling e da importância do cuidado com a roupa, para que elas durem bem mais do que o costume.
Aos poucos, mesmo fora da bolha da “moda consciente”, o upcycling encontra seu lugar ao sol e no coração, se mostrando lindo e necessário.